Desde os meus 18 anos tive sempre como o inimigo número um da minha vida a opressão ditatorial fascista.
Perdi até ao 25 de Abril centenas, senão milhares de dias e noites à procura de democratas, sofrendo na vida as respectivas consequências.
A procura era desesperante.
Recordo-me de passear na baixa de Coimbra e muitos conhecidos meus mudarem de passeio com o medo de me cumprimentarem.
Era uma batalha inglória.
Recordo a emoção não contida e as lágrimas a correrem quando no dia 28 de Abril, nas ruas de Lisboa, de megafone na mão, mobilizava os cidadãos para a estação de Santa Apolónia, sobre fortes aplausos, onde iam chegar do exílio Mário Soares, Tito de Morais e Ramos da Costa.
Junto dessa emoção não contida juntava-se a frustração de tantos dias e noites perdidas a tentar organizar a resistência à ditadura fascista.
Hoje, como já há vários anos após o 25 de Abril, alertava para o iminente perigo do renascimento de uma extrema direita no País.
Nunca esqueci a discussão histórica nos jardins da Manga, em Coimbra, entre Mitterrand, nessa época candidato à Presidente da República de França e Mário Soares.
Mitterrand defendia se fosse eleito uma aliança com o Partido Comunista Francês e Mário Soares respondia que em Portugal, um país que tinha suportado durante 48 anos uma violenta e assassina ditadura e 13 anos de uma guerra, precisava de um Partido Comunista forte na rua como oposição, porque o perigo era a oposição e as ruas serem ocupadas pela extrema-direita fascista.
Mitterrand foi eleito presidente da República de França, fez a aliança com o Partido Comunista e hoje praticamente nem o Partido Socialista nem o Comunista existem.
Em Portugal há um perigo real de um retrocesso histórico ao passado que deve assustar quem ama a Liberdade.
Irrita-me a leviandade de muitos como abordam o momento histórico político que hoje vivemos no nosso País.
A história pesa imenso na mentalidade dos países.
António Campos
Fundador e militante nº 1 do Partido Socialista, colaborador ocasional da extinta edição impressa da revista Libertária.
Caro António Campos, fala-lhe alguém que saiu das prisões salazaristas em Abril de 74 (onde estava pela segunda vez) e que, a si, só deve respeito. Mas as suas palavras, sem que nenhuma delas tenha sido dirigida ao Partido Socialista de que V. foi fundador e dirigente, parecem-me escassas e inconsequentes. Para quem ama a liberdade, como V., não é só «a opressão ditatorial fascista» que é um inimigo. É este regime clientelar, falso e deprimente, que o PS, mancomunado com o PSD, estabeleceu em Portugal, em nome da democracia. Neste sentido, os neofascistas não conquistaram nada. Foram-lhes oferecidas de bandeja a notoriedade e a base eleitoral. Promessas constantemente degradadas e incumpridas, governações perniciosas, disputa do poder pelo poder, sistemático favorecimento dos mais ricos e poderosos, corrupção, corrupção... de tudo se teve, e muito, nestes 50 anos. Uma crítica e um activismo democrático terão de considerar estes dois inimigos. Sem uma crítica e uma prática à conduta política dominante nestes 50 anos, é impossível combater o neofascismo. É necessário que nasça uma grande e credível corrente, inclusive dentro do PS e mesmo do PSD, neste sentido. Existirá ela, nos anos próximos? É esta a questão. Um forte abraço. Carlos Oliveira Santos.