A Rita e o André passaram um fim de semana de sonho e iniciam uma nova semana a pairar no Olimpo do reconhecimento social, já a engendrar novas campanhas para fazerem o que tão bem sabem fazer: injetar ódio na sociedade.
A mais recente campanha ainda ecoa hoje, em batalhas culturais fraticidas que povoam de medalhas os peitos da Rita e do André. A campanha dos nomes é um dos seus maiores sucessos! Arrastou toda a gente à esquerda do partido do André para uma guerra civil sem quartel nem propósito nem saída nem vitória possível.
Toda a gente acha que eles se importam com alguma coisa que seja dita contra eles ou a favor deles. Népia: os resultados, as medalhas, medem-se exclusivamente na quantidade de ódio injectado.
O CH não foi criado para resolver os problemas das pessoas nem para governar o país. O CH foi criado para destruir a organização sócio-económica, terraplanar a democracia liberal e abrir o caminho à instauração de um novo regime totalitário, com os tribunais, as polícias, as forças armadas e a comunicação social submetidas à vontade do chefe do governo.
A sua única política é a política do ódio: é exímio em fazer diversos grupos de pessoas sentirem-se parte do "nós" contra "eles" — toda a gente tem um "eles" que gostaria de culpar pelos seus problemas e incapacidades e o André e a Rita são exímios em darem-lhes alvos e "apoio" para que disparem à vontade, sejam os ciganos, os socialistas, os islâmicos, os chineses, os imigrantes.
A questão não é quem são: são todos os outros. Hoje uns, amanhã outros — é sempre o outro.
O problema do "nós e os outros" é precisamente essa fluidez. Tu hoje fazes parte do "nós" da Rita, porque tens dificuldades em arranjar creche, e amanhã estás no "eles" porque és brasileira. Ou pobre. Ou usas brinco. Ou pintas o cabelo de verde — não importa, o que não falta são "outros" para a Rita e o André apontarem e haverá sempre gente a acreditar que a Rita e o André identificaram o problema que o Estado não resolve, que é a malta que pinta o cabelo de verde, e quer fazer parte do "nós" do André e acha que fará — só que veste saia longa e na semana seguinte a Rita faz um post com os nomes das crianças cujas mães vestem saias longas e pimba, fostes.
As sucessivas tribos de crentes nas patranhas virtuosas da Rita e do André querem muito acreditar que o CH vai resolver os problemas delas. Basta eliminar os ciganos, fechar o país a todos menos aos ricos, tiranizar os indostânicos que tenham o azar de não conseguir sair da prisão Portugal a tempo, escravizar os ucranianos e sobretudo os brasileiros, ou pelo menos os brasileiros mais escuros, meter na prisão os socialistas e deportar as crianças com nomes de apóstolos antes de os nossos antepassados os terem traduzido para português dada a sua falta de instrução para os pronunciar.
Não vai acontecer, claro, mas não lhes digas isso. Eles sabem perfeitamente; mas ao menos são felizes a imaginar que sim, durante os dias em que acreditam que o André e a Rita e os seus amigos rufias lhes piscaram o olho em sinal de compromisso com os seus valores.
"Eles" a "eles", o "nós" do CH sobe e cresce. E os que estão de fora desse ciclo de alienação são incapazes de o atingir, de o interromper. Até agora, todas as estratégias têm falhado.
Porque falham?
Porque as fissuras, as imperfeições da democracia liberal foram abrindo, tanto pela força dos interesses no lucro dos acessos desregrados às matérias primas e aos consumidores como pelo fraqueza de governantes encadeados pelos ciclos políticos de curto alcance, tanto pelo excesso de entusiasmo com os valores humanistas como pela recusa de admitir as políticas falhadas.
As democracias liberais estão hoje num ponto de grande vulnerabilidade dada a dimensão a que chegaram os buracos nascidos dessas fissuras: hospitais sem médicos nem meios, escolas paralisadas pela burocracia, prédios convertidos em instrumentos financeiros, serviços públicos sub-dimensionados que deixam demasiada gente insatisfeita.
E ausência de perspetivas: depois do serviço da dívida, que disparou para pagar as custas do resgate da falência por culpa própria do sistema de crédito financeiro, agora os nossos governantes têm de canalizar os nossos impostos para a indústria da guerra. Tão cedo não haverá um euro para creches, hospitais e casas.
Acresce à vulnerabilidade que os defensores estão, eles também, num lastimável estado de incapacidade. É aqui, nesta tribo, que entro eu e tu e os amigos das nossas bolhas. As nossas estratégias de resistência falham consecutivamente. O nosso sistema ou é destruído, ou se regenera. Precisamos de gente do lado democrata socialista ou liberal que invente formas de regeneração.
Algumas serão duras. E muitos de nós não estamos prontos para sacrifícios. Temos vidas boas, é compreensível.
Paulo Querido
Ex-jornalista, editor da newsletter VamoLáVer. Siga-o no Facebook.
Falta saber como, todos sabemos que tudo falha, mas ninguém sabe como fazer para deixar de falhar. Será que temos "apenas" de esperar que a janela de Overton volte a mudar para o outro lado? Mas a que preço?