Quanto ao verdadeiro significado da cimeira da NATO em Haia, o secretário-geral da organização, Mark Rutte, já disse tudo numa declaração de fidelidade ao Presidente norte-americano Donald Trump:
"Senhor Presidente, querido Donald, felicito-te e agradeço-te pela tua acção determinada no Irão — foi verdadeiramente extraordinária... Esta noite, partes rumo a mais um grande sucesso em Haia. Não foi fácil, mas conseguimos obrigá-los a todos a comprometerem-se com os cinco por cento! Donald, conduziste-nos até um momento mesmo, mesmo importante para a América, a Europa e o mundo inteiro... A Europa vai PAGAR À GRANDE, como deve ser — e essa será a tua vitória..."
Oficialmente, muitos jornalistas comentam que se trata de manter os EUA e Trump dentro da NATO e de garantir que, em caso de ataque russo, os Estados Unidos prestem auxílio aos europeus.
O problema destes bajuladores incompetentes é que nem sequer conhecem o tratado da NATO. Se conhecessem, saberiam que os EUA, na prática, há muito que dele se afastaram.
O Artigo 1 do tratado reafirma o princípio da resolução pacífica dos conflitos:
"As Partes comprometem-se a resolver por meios pacíficos qualquer conflito internacional em que estejam envolvidas, em conformidade com os princípios da Carta das Nações Unidas, de forma a não pôr em perigo a paz e a segurança internacionais nem a justiça, abstendo-se nas suas relações internacionais de recorrer à ameaça ou ao uso da força, em desacordo com os objectivos das Nações Unidas."
Ora, a ameaça e o uso da força são a base da política externa dos Estados Unidos há décadas.
E os bajuladores também nunca leram o tão invocado Artigo 5:
"As Partes acordam que um ataque armado contra uma ou mais delas na Europa ou na América do Norte será considerado como um ataque contra todas; e, por conseguinte, acordam que, se tal ataque ocorrer, cada uma delas ajudará a Parte ou as Partes atacadas, exercendo o direito de legítima defesa individual ou colectiva, reconhecido pelo Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, tomando imediatamente, individualmente ou em conjunto com as outras Partes, as medidas que considere necessárias, incluindo o uso da força armada, para restabelecer e assegurar a segurança da área do Atlântico Norte."
Quem souber ler o Artigo 5 perceberá que cada país é completamente livre de decidir se recorre ou não à força militar.
Há décadas que os conhecedores da política internacional sabem que o escudo nuclear dos EUA existe só no papel, porque nenhum presidente norte-americano arriscaria ver Nova Iorque, Washington ou São Francisco destruídas para impedir o ataque a uma cidade europeia.
A cimeira da NATO em Haia nada tem a ver com geoestratégia ou segurança. Os vassalos devem saudar o chapéu de Gessler e prestar tributo à indústria armamentista dos EUA.
Os mais zelosos são os alunos-modelo alemães, liderados por Merz e Pistorius — os cabeças de cartaz do novo militarismo alemão que passará a marcar a nossa política.
P.S.: Quatro meses após as eleições para o Bundestag, será finalmente instalado esta Quinta-feira o comité de verificação eleitoral, que terá de se pronunciar sobre a queixa apresentada pelo BSW. Na verdade, o partido ultrapassou a barreira dos cinco por cento. Todos jogam para ganhar tempo, os órgãos constitucionais falham. O BSW — a única força verdadeiramente contra a guerra e a corrida ao armamento (até o Die LINKE aprovou o disparate no Bundesrat) — está a ser mantido ilegalmente fora do Bundestag.
O chanceler da guerra, Merz, não tem maioria.
Oskar Lafontaine
Ex-líder do SPD e co-fundador do partido A Esquerda (Die Linke), conhecido pela sua oposição às políticas neoliberais e ao militarismo europeu.