O assassinato de Pierre Alessandri: a violência ao serviço da agro-indústria
Lysandre | Union Communiste Libertaire
A 17 de Março de 2025, Pierre Alessandri, agricultor e sindicalista, foi abatido com três tiros pelas costas enquanto se encontrava na sua exploração agrícola, perto de Ajaccio. Militante incansável contra a corrupção, era um dos denunciantes do escândalo das fraudes relativas aos subsídios europeus na Córsega.
Pierre Alessandri era secretário regional do Via Campagnola, um sindicato agrícola corso afiliado à Confédération Paysanne. Em Janeiro, a Córsega viveu um abalo sem precedentes: o Via Campagnola venceu as eleições para a Câmara da Agricultura nos dois departamentos corsos, uma vitória histórica contra a FNSEA, que até então reinava sem qualquer contestação. Longe de se tratar de uma mera alternância sindical, esta viragem soa para alguns como sendo o fim de uma impunidade. Pierre Alessandri denunciava publicamente as fraudes massivas no acesso aos apoios à pecuária — um sistema bem oleado que permitia o desvio de fundos públicos com a cumplicidade de eleitos e do sindicato maioritário.
O escândalo rebentou pouco antes de 2020: entre 2015 e 2019, os apoios europeus destinados a sustentar a pecuária na Córsega foram desviados por exploradores fictícios, alguns dos quais recebiam subsídios por rebanhos que nunca existiram. Uma verdadeira economia mafiosa, avaliada em mais de 36 milhões de euros. A resposta do Estado? Um remendo burocrático: impor aos bovinos corsos o uso de um chip electrónico, o famoso bolus, supostamente destinado a garantir que os apoios fossem atribuídos por cabeça [Pose de bolus sur les cheptels bovins, DRAAF Corse, 2024]. Uma medida irrisória face a um sistema enraizado em décadas de favores, compadrios e clientelismo.
Pierre Alessandri nunca deixou de denunciar estas práticas. Continuou, apesar das ameaças, apesar do incêndio criminoso que devastou a sua exploração agrícola em 2019. Persistiu, até que a violência atingiu o seu paroxismo. A 17 de Março, foi abatido.
Se é verdade que várias figuras corsas — independentistas, agricultores e agricultoras — lhe prestaram homenagem, o silêncio por parte do Estado é gélido. Uma declaração morna de Annie Genevard na rede X, e depois mais nada. Quanto à FNSEA, resguarda-se bem de comentar um crime que põe a nu as práticas fraudulentas e as cumplicidades de que beneficia há demasiado tempo.
Este drama humano ultrapassa o mero contexto corso. Inscreve-se numa lógica mais vasta: a da total impunidade concedida ao complexo agro-industrial. Ao fechar os olhos às práticas mafiosas do sindicato maioritário e dos grandes exploradores, o Estado torna-se cúmplice do colapso da agricultura camponesa. Legitimando uma agricultura nas mãos dos poderosos, fá-lo em detrimento daqueles e daquelas que verdadeiramente alimentam a população.
Este crime não nos deve fazer recuar. Deve soar como um apelo a reforçarmos a solidariedade do nosso campo social, a mantermo-nos ao lado de quem, todos os dias, defende uma agricultura camponesa, viva e respeitadora do ambiente. Continuaremos a luta, com ainda mais determinação. Seremos firmes — por campos vivos!
Lysandre (UCL Vosges)
Fonte: Alternative Libertaire